Quase 15.000 toneladas? É pouco.

Adriana Fogel

Entre 2011 e 2013, a Associação das Indústrias da Alimentação (Abia) firmou um conjunto de acordos junto ao Ministério da Saúde comprometendo-se a reduzir o sal nos alimentos processados. De lá para cá foram retiradas 14.893 toneladas de sódio dos produtos alimentícios.reaja (17)

O anúncio foi feito no final de junho pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, e o presidente da Abia, Edmund Kloz. O resultado teve tom de comemoração. Mas não há motivo para euforia, ainda há muito a melhorar.

De acordo com a Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico), o brasileiro ainda apresenta uma percepção pequena sobre o consumo de sal em excesso: apenas 14,9% da população considera sua ingestão muito alta.  No entanto, 70% das pessoas consomem mais sódio do que deveriam.

Não é difícil entender o motivo: há sódio em tudo (ou quase tudo) que é industrializado. Além de conservante, o sal desperta desejo. Um pesquisador chamado Howard Moskowitz, em estudo publicado em 2001, revelou que as pessoas se sentem atraídas por alimentos muito salgados, doces ou gordurosos por outros motivos, que vão além da fome. Ele comprovou o que há muito já se sabe. Afinal, quem nunca ouviu a expressão “sem sal” se referindo a algo sem gosto ou sem graça?

Ok. Isso explica o consumo em excesso, mas, e a falta de percepção sobre isso, de onde vem? As pessoas tendem a contabilizar apenas o sal que acrescentam ao prato. Ele conta sim, mas não é o principal problema. Pesquisas indicam que o saleiro é responsável apenas por 6% do consumo diário. O dilema maior é o sal que não se vê.

A embalagem de uma das marcas mais famosas de macarrão instantâneo, na sua versão light, apresenta, hoje, mesmo depois do acordo, mais de 1200mg de sódio por porção. Se você resolver comer este prato acompanhado daquele refrigerante que quer se passar por saudável só porque usa estévia como adoçante, estará consumindo mais 40mg. De sobremesa, dois bombons: mais 60mg. De tarde bateu aquela fome e você resolveu comer um pacote com 100g de batatinhas: mais 500mg de sódio. Esta soma representa quase o total recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 2000mg/dia (2000mg de sódio, ou 5000mg de sal).

Outra possível causa desta percepção abaixo da realidade é a forma como este dado é mostrado no rótulo dos industrializados: o tamanho da porção nem sempre equivale ao conteúdo total da embalagem. Aí, o consumidor precisa ficar fazendo contas para chegar a esta informação. Ou pior: não percebe que a porção usada como referência não equivale ao pacote inteiro. Bem conveniente. Para o fabricante, claro!

É por isso que a melhoria das regras de rotulagem de alimentos é uma das estratégias da OMS, e de outros órgãos internacionais, para facilitar escolhas alimentares mais saudáveis. Além de padronizar o tamanho da porção, outra proposta é colocar informações sobre excesso de sal, gordura e açúcar na parte frontal do rótulo. Alguns países, como o Chile e a Inglaterra, já adotaram esta medida. Discussões neste sentido já estão em curso por aqui. Que se tornem realidade!

Referências:

1. Associação Brasileira de Nutrição. Comitê internacional discutirá regras para rotulagem frontal

2. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Idec lança pesquisa online sobre rotulagem nutricional. Participe!

3. Michael Moss. Sal, Açúcar, Gordura. Como a indústria alimentícia nos fisgou. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

4. Ministério da Saúde. Acordo já retirou 14 mil toneladas de sódio dos alimentos processados.

 

Adriana Fogel é Publicitária e Mestranda em Educação na UNIRIO.


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